A homenagem ao professor Marcus Vinícius de Oliveira, também conhecido como Marcus Matraga, emocionou o grande número de pessoas que lotou o Salão Nobre da Reitoria da UFBA, durante o ato realizado na noite de quinta-feira (18/02), reunindo seus familiares, amigos, alunos, colegas profissão e de militância. Apresentações musicais, declamação de poemas e performances teatrais compuseram a homenagem, além de uma rica exposição de fotos e poesias do homenageado e um mural de depoimentos de admiradores do professor aposentado do Instituto de Psicologia da UFBA, que foi assassinado neste mês de fevereiro em circunstâncias as serem esclarecidas.
A canção Ponta de Areia, de Milton Nascimento, iniciou a homenagem com a apresentação de estudantes da Escola de Música, que cantaram com o acompanhamento de um violão. Em seguida, o reitor da UFBA João Carlos Salles destacou a importância do professor Marcus Vinícius como militante e disse que a maior homenagem que ele pode receber é o compartilhamento de sua luta e seus ideais. Durante a sua fala, o reitor chamou atenção para a mobilização de esforços para a apuração do caso. Ele também recitou o poema “Peixe de Neruda”, de Ivo Barroso.
A diretora do Instituto de Psicologia da UFBA, Ilka Bichara, lembrou que o professor Marcus é uma referência nacional e internacional na defesa da saúde pública, especialmente na saúde mental, encampando a luta antimanicomial. Ela também ressaltou o seu papel como líder na militância pelos direitos humanos de uma forma geral. Foi exibido um vídeo com momentos da trajetória do professor e depoimentos de colegas e companheiros de luta, destacando a sua atuação na reforma psiquiátrica e sua ética, carinho e acolhimento para com as pessoas em tratamento.
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Um dos momentos de maior emoção foi quando o grupo de teatro Os Insênicos adentrou o Salão Nobre em uma performance cantando “É preciso amar as pesssoas como se não houvesse amanhã", trecho da música Pais e Filhos, de Renato Russo. O grupo é composto por portadores de transtornos mentais e associados da AMEA – Associação Metamorfose Ambulante de familiares e usuários dos serviços de Saúde Mental do Estado da Bahia. Um dos integrantes recordou a contribuição do professor e afirmou que ele estará sempre vivo no coração de cada um. “Somos frutos desse grande homem. Ele não morreu, pois nós estamos aqui para representá-lo”, disse.
Também falaram a filha, Natália, e a companheira Marta, que vivia com o Marcus Vinícius no sítio “Lanterna dos Afogados”, no município de Jaguaripe, onde passaram a morar após a aposentadoria do professor, em 2011. A sua filha agradeceu em nome de toda a família pela homenagem prestada e destacou o exemplo de seu pai como profissional e ser humano. Segundo ela, a sua paternidade sempre foi compartilhada com muitos outros que o tinham como um pai. A coragem do professor para lutar e a sua aposta na coletividade como força motriz da sociedade foi ressaltada pela companheira que viveu ao seu lado nos últimos anos. Ela lembrou a luta constante do professor para a construção de uma sociedade menos desigual e mais justa, enfrentando as perversidades e contradições.
Marcus Vinícius foi vítima de homicídio no dia 04 de fevereiro deste ano, no município de Salinas das Margaridas, ao que parece, em função de sua atividade política na mediação de conflitos de terra, em circunstâncias a serem apuradas pelas autoridades competentes. O professor era, nas palavras da diretora do Instituto de Psicologia da UFBA, Ilka Bichara, “um grande combatente das causas sociais, principalmente na luta antimanicomial”. Em nota o Conselho Federal de Psicologia destacou a sua participação na consolidação da Psicologia no Brasil, tendo integrado diversas gestões do CFP e dos conselhos regionais de Minas Gerais e Bahia.
Durante a homenagem, o público acompanhou todas as falas com emoção, aplaudindo muitos momentos do ato e cantando canções como Sociedade Alternativa, de Raul Seixas. Também participaram da cerimônia o vice-reitor da UFBA Paulo César Miguez e representantes do Conselho Regional de Psicologia, da APUB – Sindicato dos Professores das Instituições Federais do Ensino Superior da Bahia, do diretório acadêmico e do Instituto de Psicologia da UFBA, além de diversas entidades e projetos vinculados à área da psicologia, entre eles o Movimento Cuidar da Profissão e o Núcleo de Estudos pela Superação dos Manicômios.