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Escavações confirmam cemitério de escravizados no complexo da Pupileira em Salvador. Pesquisa da UFBA identificou o local

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Os resultados das escavações preliminares que confirmaram a existência dos remanescentes humanos no antigo cemitério dos africanos do Campo da Pólvora, na cidade de Salvador, foram comunicados em coletiva de imprensa realizada na segunda-feira, 26 de maio. A localização do antigo cemitério foi identificada pela doutoranda Silvana Olivieri em sua pesquisa em curso junto ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA.

De acordo com o professor Samuel Vida, coordenador do Programa de Direito e Relações Raciais da UFBA e coautor o dossiê encaminhado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com os achados da pesquisa, o cemitério pode se constituir num dos maiores acervos de remanescentes humanos de pessoas negras escravizadas das Américas, com estimativas que podem chegar a mais de 100 mil pessoas sepultadas ao longo do período em que esteve em atividade, até 1844.

As escavações foram conduzidas pela equipe coordenada pela arqueóloga e antropóloga Jeanne Dias, egressa da UFBA. Os trabalho começaram no dia 14 de maio, foram realizados no estacionamento do Complexo da Pupileira, no bairro de Nazaré, em uma área equivalente a três vagas. Os primeiros vestígios de ossos e dentes humanos foram identificados no quinto dia de escavações. Os segmentos estavam a cerca de três metros de profundidade, o que sugere que o antigo cemitério foi soterrado como uma forma de apagamento da história. Novos vestígios foram localizados até o dia 23 de maio, prazo final que foi incialmente acordado para a realização das escavações.

A destinação do espaço, a preservação do sítio arqueológico e do patrimônio cultural brasileiro estão sendo acordadas em negociações com Santa Casa de Misericórdia - responsável pelo Complexo da Pupileira, o Iphan e o Ministério Público do Estado da Bahia. As discussões deverão envolver também a participação da sociedade civil em audiências públicas que serão convocadas.

 

Sobre o cemitério dos escravizados

Por cerca de 150 anos, funcionou na cidade de Salvador o cemitério de africanos, onde foram realizados sepultamentos de milhares de escravizados e seus descendente de maneira precária e indigna. Líderes de revoltas e insurreições negras, como Búzios e Malês, além de outros movimentos revolucionários, tiveram seus corpos sepultados no local que hoje abriga o Complexo Pupileira.

Conhecido como cemitério do Campo da Pólvora, foi desativado pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia em 1844, quando foi substituído pelo novo cemitério do Campo Santo. O antigo cemitério sofreu um violento apagamento histórico, desaparecendo tanto da paisagem visível como da memória da cidade.

A partir das tratativas iniciais, o Ministério Público Estadual, através do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, instaurou procedimento que possibilitou o prosseguimento do diálogo com a Santa Casa de Misericórdia, resultando no estabelecimento de um Termo de Cooperação Técnica entre os pesquisadores e a referida instituição católica, que prevê a realização da pesquisa arqueológica visando a constatação da permanência de remanescentes humanos no terreno que abrigou o cemitério.

Os esforços estão sendo construídos para resgatar uma importante parte da história negra da cidade de Salvador. Um ato inter-religioso foi convocado para o início das escavações, no dia 14 de maio, coincidindo com a data da execução de líderes da Revolta Malê. O trabalho de escavações é coordenado pela arqueóloga e antropóloga negra Jeanne Dias.

Após a finalização da etapa de prospecção arqueológica constatatória, a partir dos dados iniciais levantados, serão realizadas outras conversas para pensar o futuro da descoberta, a continuidade das pesquisas e as medidas de natureza reparatória que deverão ser adotadas nas diversas esferas: patrimoniais, históricas e espirituais.