O músico, compositor e professor da Escola de Música da UFBA, Paulo Costa Lima, é o autor da peça musical “Cabinda: Nós Somos Pretos” que será apresentada pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), na Temporada 2015, nos dias 16, 17 e 18 de abril, no Espaço Sala São Paulo, em São Paulo (SP). O concerto que estará sob a regência do maestro Marin Alsop, marcará a estreia da obra que foi composta por Lima sob encomenda da própria OSESP.
A obra
Cabinda: Nós Somos Pretos é um painel auditivo de atitudes que fazem referência à presença negra no Brasil. São atitudes sonoras, musicais, culturais, que deságuam no planejamento das texturas, dos ambientes rítmicos, do desenho expressivo da obra, ou seja, da miríade de pequenos e grandes gestos que compõem uma espécie de “estar no mundo” para a obra em questão.
Não há um fio programático explícito — a trama narrativa é feita a partir da própria vivência sonora, porque música também é discurso. Trata-se, portanto, de um mergulho em diversos imaginários que circulam entre nós — o candomblé de caboclo, a herança queto e banto, as coisas cantadas no sertão —, que remetem aos valores civilizatórios dessa presença negra, sendo o próprio compositor uma testemunha ocular, ou melhor, auditiva, dessa riqueza expressiva. São ciclos rítmicos, ambientes responsoriais, condensações e rarefações, leituras e releituras que não desprezam nada, enfim, convites diversos para mergulhar e refletir sobre esse legado que nos constitui, uma vez que a África civilizou o Brasil.
A peça cultiva uma sensação de alegria e de coerência narrativa, embora trabalhe com a ideia subjacente de que “tudo é possível” nesse mergulho. É também invenção ou reinvenção da antropofagia paulista ou baiana, que sempre habitou entre nós.