Na última segunda-feira, dia 01/12, a Faculdade de Medicina da UFBA recebeu a visita do neurocientista e professor dos departamentos de psicologia e psiquiatria da Universidade de Columbia/EUA, Carl Hart. Ele é também membro do Conselho em Assuntos de Abuso de Drogas e pesquisador da Divisão de Abuso de Substâncias do Instituto de Psiquiatria de Nova York.
O Dr. Carl Hart veio ao Brasil a convite da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas do Ministério da Justiça para participar do 1º. Congresso Internacional de Prevenção dos Problemas Relacionados ao Uso de Drogas (PREVINE 2014), que conta com o apoio do Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crimes.
O prof. Hart aposta em uma abordagem diferenciada sobre a questão das drogas, questionando medidas como a internação compulsória e o acirramento das leis anti-drogas, que segundo ele resultam do preconceito e de problemas sociais mais complexos. O professor afirma que as drogas não são um problema em si e que 80% a 90% das pessoas que usam drogas não são viciadas. Ele cita o exemplo dos últimos presidentes dos Estados Unidos que utilizaram drogas sem maiores problemas e afirma que os usuários das elites são tratados de forma diferente dos usuários pobres. Na sua visão as pessoas se viciam por muitas razões, que envolvem doenças psiquiátricas, problemas como a pobreza, falta de emprego, etc.
Em sua passagem pela Faculdade de Medicina da UFBA, Carl Hart visitou a Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti – programa de extensão Permanente na Faculdade de Medicina, conheceu o trabalho de campo realizado junto à comunidade, concedeu entrevistas e participou de uma conversa com técnicos da sala da Aliança (CAPSad Gregório de Matos), com tradução de Raquel de Souza. Durante toda a visita, foi acompanhado pelo Prof. Tarcísio Andrade, que é o coordenador geral da Aliança de Redução de Danos.
Na entrevista, o professor defendeu a descriminalização como um passo intermediário para a educação do público rumo a legalização das drogas, o que seria fundamental para a redução de danos e para garantir a qualidade das drogas que geralmente chegam às ruas adulteradas, sem qualquer controle. No cenário atual, as pessoas com mais dinheiro sempre têm acesso a drogas de melhor qualidade enquanto que os pobres não – mas ninguém parece se importar muito com essas pessoas menos favorecidas. Segundo ele, falta coragem política para adotar as medidas necessárias.
Ainda segundo o professor, existem muitos mitos e informações equivocadas que são difundidas, como a ideia de que se a pessoa utilizar o crack uma única vez irá se viciar, o que muitas pessoas acreditam ser verdade. De acordo com Hart é preciso educação para lidar melhor com a questão das drogas, ensinando como minimizar os danos e ampliar possíveis benefícios. As drogas devem ter um tratamento como já acontece em muitos casos com a educação sexual. Ele considera que a atividade sexual também pode ser perigosa, então de ser ensinado como fazê-la de uma forma segura, usando camisinhas. E o mesmo deve acontecer em relação às drogas.