Num clima de emoção e satisfação, o Reitor da Universidade Federal da Bahia, professor João Carlos Salles, presidiu a solenidade de reintegração da professora Mariluce Moura à Universidade Federal da Bahia como docente da Faculdade de Comunicação da UFBA. A cerimônia, realizada na manhã desta nesta sexta feira (18/12), na Sala dos Conselhos superiores, reuniu representantes de vários segmentos da universidade e da sociedade baiana para testemunhar o Ato de Reintegração da jornalista e professora que perdeu o direito de exercer suas funções profissionais na Universidade como imposição da Ditadura Militar, no ano de 1976.
De acordo com o Reitor, “a reintegração da professora enriquecerá a Universidade, devido à notável atuação e trajetória profissional, e também reafirma a UFBA como instituição democrática e responsável por fazer uma releitura da história”. Para a professora Mariluce, "o ato tem um significado intenso e o sentimento que a domina é uma imensa alegria, diante da chance de ter restituído um direito que lhe foi tirado abruptamente". Vários professores, contemporâneos de lutas da professora, nos anos de 1970, vibraram com o retorno da docente e a reparação da injustiça, imposta devido às suas convicção ideológicas e militância política. (Veja imagens da solenidade.)
Demissão forçada
Durante o período da ditadura militar no Brasil, Mariluce Moura foi presa e torturada pelos agentes da repressão, e acabou sendo também demitida de sua função no Departamento de Comunicação da UFBA. A professora foi absolvida posteriormente pela própria Justiça Militar, mas ainda assim não conseguiu recuperar o seu emprego.
No último dia 14/10, em sessão da Comissão de Anistia realizada em homenagem ao Dia do Professor (15/10), foi oficializado o pedido de desculpas do governo brasileiro aos professores perseguidos durante a ditadura militar. A comissão reconheceu o período em que a professora Mariluce Moura ficou afastada de seu emprego e, através de Portaria do Ministério da Justiça, lhe concedeu o direito de ser reintegrada à UFBA.
A Comissão de Anistia, instalada pelo Ministério da Justiça em 2001, é um órgão do Estado brasileiro que atua pela reparação moral e econômica das vítimas de atos de exceção, arbítrio e violações aos direitos humanos cometidas no país, entre 1946 e 1988, por motivação exclusivamente política. Mais de 75 mil pedidos de anistia já foram protocolados junto à Comissão.
“Fui em presa em Salvador em 1973, estava grávida. Meu marido foi preso e assassinado no mesmo ano. Em 1974, fui julgada e absolvida pela Justiça Militar, portanto eu era uma cidadã livre. Prestei concurso público e fui aprovada como professora da UFBA. Mas por uma determinação do Ministério da Educação, meu vínculo com a universidade foi cortado em 1975. A ditadura negou o meu direito de ter uma carreira acadêmica. Direito conquistado com mérito, após aprovação em concurso público”, relembra a professora e jornalista.
Sobre o processo de anistia, Moura afirma que decidiu abrir o processo em 2011, e uma das questões colocadas foi justamente sobre a perseguição e demissão que sofreu enquanto professora universitária. Após o julgamento na Comissão de Anistia, ela poderia escolher receber uma indenização e um pagamento mensal ou ser reintegrada como professora da UFBA. Escolheu a segunda opção.
“Meu vínculo com a UFBA começou aos 11 anos, quando fui aluna do colégio aplicação. Retorno à universidade vinculada à Faculdade de Comunicação e gostaria muito de dar a minha contribuição, especialmente na área do jornalismo científico, à qual tenho me dedicado nos últimos 27 anos”, ressalta Moura.
Mariluce Moura passou a viver em São Paulo em 1989, quando também deixou a editoria de economia e passou a atuar no jornalismo científico. Nos últimos dois anos ela começou a frequentar mais a Bahia com o propósito de lançar a revista Bahia Ciência. Retorna agora em definitivo após a sua reintegração à universidade com a decisão do processo de anistia.
Mariluce Moura
Diplomada em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mariluce Moura é mestra e doutora em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Iniciou a sua carreira jornalística em 1969, no mesmo ano em que começou a graduação, atuando como jornalista de economia por muitos anos, até se dedicar ao jornalismo científico a partir de 1988. Entre várias publicações, foi repórter e editora no Jornal da Bahia, Tribuna da Bahia, O Globo, Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Exame, Senhor e Isto É. No final dos anos 1980 foi assessora de comunicação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e também atuou como assessora de comunicação da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, em 1990. No ano de 1995 implantou o setor de comunicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do qual foi gerente até julho de 2002.
Mariluce Moura criou uma das mais importantes revistas de divulgação científica brasileira, a Pesquisa FAPESP (www.revistapesquisa.fapesp.br), que dirigiu entre 1999 e 2014. Lançou no mercado baiano a revista Bahiaciência (www.bahiaciencia.com.br), com o firme propósito de incluir no debate sobre o desenvolvimento do estado de qual é originária os temas da produção local do conhecimento científico, da tecnologia e da inovação. Foi presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico e desenvolveu, em parceria com o grupo de pesquisa Labjor, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um projeto multimídia de difusão científica no país, voltado ao público de 14 a 25 anos, que denominou “Ciência na rua”. Atualmente é diretora-presidente da Aretê Editora e Comunicação Eireli.