Mudança no perfil socioeconômico dos alunos e popularização da internet são alguns dos fenômenos que atingem o ambiente universitário. Cada vez mais a Universidade recebe alunos nativos digitais, que são pessoas que nasceram e cresceram com as tecnologias digitais presentes em sua vida. É importante que os professores estejam bem preparados para poder lidar com essa situação. Tudo isso foi tema no Congresso UFBA 2018, na mesa “o novo perfil do estudante universitário e os desafios enfrentados pelos docentes”. O debate aconteceu no Auditório I do PAF V, localizado no Campus de Ondina da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Estiveram presentes os professores João Dias de Queiroz, especialista na área de tecnologia da informação aplicada à educação; Horácio Filho, diretor da Escola de Administração da UFBA, e Iêda Freire de Carvalho, professora aposentada da Faculdade de Educação, especialista na área de psicopedagogia.
Para o professor João Dias de Queiroz, a internet foi a principal fomentadora das mudanças no perfil do aluno que aconteceram nos últimos anos. “O novo aluno universitário é um nativo digital. Nesse ambiente, a Universidade não é a única fonte de conhecimento, como acontecia antigamente. Isso dá espaço para que haja um excesso de informação na sociedade, o que resulta muitas vezes em desinformação por parte dos nossos alunos”, disse. Além disso, com a democratização do ensino, houve uma mudança no perfil socioeconômico dos alunos Universitários. “Eu já tive aluno que disse que faltou aula, pois não tinha dinheiro para o transporte, por exemplo. Nem sempre as aulas são organizadas para que o aluno possa estudar e trabalhar ao mesmo tempo”, destacou o professor João Dias de Queiroz, autor de um estudo que identificou o grau de motivação e engajamento dos alunos, na Faculdade de Administração.
Já para o professor Horácio Filho, um aspecto importante nesse novo perfil dos estudantes universitários é a incerteza profissional existente no mundo atual. “O aluno entra na Universidade sem ter a certeza de que sairá dali com um emprego ou mesmo com uma profissão. Algumas áreas têm a sua existência ameaçada com o avanço tecnológico e vivemos num período incerto”, argumentou.
Essa mudança no perfil universitário causa também impactos na vida docente. Nem sempre os professores estão preparados para lidar com os desafios que surgem com essa realidade. A professora Iêda Freire de Carvalho encontrou uma boa maneira de superar esses desafios: “estava chateada, pois preparava a aula, mas não conseguia fazer com que os alunos respondessem da mesma forma. Alguns saiam da sala, outros ficavam no celular... então resolvi fazer o curso de psicopedagogia”. Com o aprendizado vindo da psicologia, Iêda passou a destinar os 15 minutos finais da sua aula para ouvir os estudantes. O objetivo inicial era de que eles pudessem fazer críticas ou elogios, mas o que a professora ouviu mesmo foram os problemas pessoais dos alunos. “Isso fez com que os estudantes passassem a contribuir com a minha formação pessoal e profissional. Houve uma verdadeira troca de experiências em sala de aula”, completou.
A forma encontrada pela professora Iêda é um exemplo do que pode ser feito para superar aquilo que o professor João Dias de Queiroz chama de “choque cultural entre os alunos e professores mais antigos”. Ele explica: “alguns professores não sabem lidar com esse novo tipo de aluno nativo digital. Soma-se isso com a falta de formação didática de alguns docentes, temos uma situação complicada”.
Para o professor Horácio, é necessária uma mudança na forma como se explica o assunto em sala de aula. “Hoje, o professor é mais um provocador do que um simples explicador. Provocar é mais importante do que apenas apresentar conteúdo. O acesso à informação está em todo lugar. O professor tem que saber conviver com isso”, disse. Isso remete ao conselho dado pela professora Iêda aos seus colegas de trabalho: “o aqui e o agora já são muito diferentes do ontem e serão diferentes do amanhã. Isso faz parte da vida. Entender isso é o desafio”.