Relatos sobre os primórdios da pós-graduação na Universidade Federal da Bahia, os avanços realizados até alcançar ao estágio atual e perplexidades frente às incertezas do futuro marcaram os debates da mesa sobre os “50 Anos da pós-graduação stricto sensu na UFBA: anos iniciais e tendências contemporâneas”, realizada na manhã do último dia (18/10) do Congresso, no salão nobre da reitoria.
A discussão – que reuniu a responsável pela pesquisa, ex-reitoria Dora Leal Rosa; a professora aposentada do Instituto de Química, Aldy Brandão; a professora fundadora do Instituto de Matemática, Arlete Lima; o professor pioneiro da pós-graduação em Geociências, Roberto Argolo; o pró-reitor de pesquisa, criação e inovação da UFBA, Thierry Lobão e a mediadora do debate, a diretora do Instituto de Geociências, Olivia Oliveira – sinalizou a presença notável que a UFBA ocupa na Bahia, possibilitada pelos seus cursos de pós-graduação que formam quadros especializados em todas as áreas, professores pesquisadores e mais da metade da produção científica do Estado.
De acordo com o coordenador de pós-graduação da UFBA, Thierry Lobão, “a produção de artigos científico de pesquisadores dos diversos programas de pós-graduação em funcionamento na universidade representa 53,9% de um total de mais de 30 mil produções no Estado, segundo levantamento realizado na plataforma Web of Science”. Segundo o docente, o índice H – que é um importante indicador de qualidade e relevância na produção científica – está acima de 130.
“Tais avanços mostram a elevação do patamar das atividades de pós-graduação na instituição, devido a ações de incentivo, realizadas pela pró-reitoria de pós-graduação”, acredita Lobão. Entre as inciativas de incentivo, estão “os editais para professores visitantes que conseguiu trazer 70 docentes, sendo que 50% deles são estrangeiros, e para jovens doutores que renovou substancialmente o quadro de professores da Universidade. Além disso, também existe o auxílio oferecido aos estudantes de pós-graduação que vão apresentar trabalhos em congressos e várias ações de apoio para dar suporte a fim de que os programas sejam melhorados e alcancem notas 5, 6 e 7 na avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), informou Thierry.
O crescimento da pós-graduação pode ser visto desde à sua implantação no ano de 1969, para o qual dados estatísticos do cadastro de pós-graduação da Assessoria de Planejamento da UFBA para o ano de 1974, registram que havia 88 estudantes matriculados em cursos de pós-graduação stricto sensu e atualmente, existem 6.847 cursando mestrado e doutorado. “Além das matrículas que experimenta um aumento contínuo e persistente, o nível de qualificação dos docentes é alto, enfatizou o professor, justificando que hoje 75% do quadro de docentes da UFBA é composto por doutores e a maioria em dedicação exclusiva para a pesquisa e o ensino”.
“A cada ano, pelo menos um novo curso de pós-graduação é aberto”, disse ele. Só neste ano de 2018, foram seis novos cursos provados pela Capes para a UFBA, dentre eles, o doutorado em Dança que é o primeiro na América Latina”, pontuou lamentando “as tendências do momento atual que revelam uma configuração futura pouco positiva para a área da pós-graduação no Brasil. “Por isso, é preciso empreender ações para não barrar nossos avanços”, conclamou.
Os primórdios da pós na UFBA
Para chegar ao atual panorama atual, a pós-graduação percorreu um longo caminho na UFBA, que foi lembrando pela ex-reitora Dora Leal Rosa, idealizadora da pesquisa que reconstruiu a trajetória desde o dia 23 de novembro de 1967, quando foi aprovado o regimento para o funcionamento dos primeiros seis cursos de mestrado numa reunião do Conselho Universitário presidida pelo reitor, professor Roberto Santos. De acordo com a investigação, realizada juntamente com o professor Robert Verhine, “a pós-graduação na UFBA nasceu com a missão de ampliar a qualificação dos docentes que já ministravam aulas nos cursos de graduação da Universidade e deveriam oferecer disciplinas que cobrissem as cinco grandes áreas do conhecimento”.
Na época, foram designados os professores responsáveis para cada um dos seis mestrados: Arlete Lima para Matemática; Alexandre Costa para Biologia; Antônio Machado Neto para Ciências Humanas; Raphael Selling para Química; Juarez Paraíso para Desenho e José Walter Vidal para Física, relatou Dora. Mas apenas dois cursos começaram, efetivamente, a partir do ano seguinte, 1968. “Dos cursos relacionados na portaria da Reitoria, somente Química e Ciências Humanas iniciaram as aulas, a partir do mês de maio de 1968. Infelizmente, naquela ocasião, os mestrados nas áreas de Desenho e Física não foram implantados e em 1969 começaram a funcionar os mestrados em matemática, Biologia e Geociências.
Ela também destacou que anterior à resolução de 1967, a UFBA já tinha experiência com pós-graduação, mediante iniciativas isoladas, oferecidas por algumas unidades de ensino como cursos de doutoramento nas faculdades de Medicina e Direito e uma pós-graduação em Geofísica, impulsionada para as pesquisas na exploração de petróleo pela Petrobrás. Mas a pós-graduação strictu sensu que estava sob regulação da Câmara de Pós-Graduação da Universidade, regida por normas e requisitos do Conselho Federal de Educação, realmente completou 50 anos.
Política acertada
Citando relatórios oficias da época, a professora destacou que “foi acertada a política da UFBA em desenvolver o conhecimento nos domínios das ciências exatas e da tecnologia, pois era o setor do conhecimento humano que mais requisitava especialistas pesquisadores, na sociedade daquele momento”. Em consonância, o cadastro de pós-graduação da Assessoria de Planejamento sobre o a demanda do ensino de pós-graduação na UFBA, registra que em 1969, “a expansão da pós-graduação se deu na área das ciências exatas com o funcionamento de quatro programas – Geofísica, Geociências, Química e Matemática – indicando”.
O corpo docente à época era composto por 1.232 docentes sendo que o regime de trabalho era de 12 e 24 horas de dedicação apenas e muitos desses professores, “tinham a universidade como uma atividade lateral”, pontou Dora. “Não havia dedicação exclusiva e nem uma qualificação mais apurada”, disse ela, “daí, a exigência de qualificação em mestrado foi fundamental para a formação de um quadro com massa crítica, pois antes só eram horistas”, racionalizou.
O desejo de mudança e a insatisfação com o ensino da matemática impulsionaram a professora Arlete Lima a se dedicar a um curso na Universidade de São Paulo, convidada como bolsista do matemático Omar Catunda. De volta a Salvador, ela foi convidada pelo então reitor Edgard Santos para estar à frente da fundação do Instituto de Matemática e Física (IMF), no ano de 1956. Com muito bom humor, a professora emérita octogenária lembrou que “as aulas eram ministradas em Inglês. Um Inglês ruim tanto dos professores estrangeiros quanto o falado pelo alunos. Mas alí já estavam presentes as tendências da contemporaneidade”.
Professores estrangeiros, principalmente da Universidade de Paris também aturam no Instituto de Química, recém-criado em fevereiro de 1964 e com a pós-graduação instituída em 1960, lembrou a professor Aldyr Brandão. Ela também destacou que após a instalação do regime de tempo integral a partir dos anos de 1970, o mestrado avançou substancialmente.
O professor Roberto Argolo, pioneiro da pós em Geofísica, atribuiu o sucesso da implantação do mestrado n área em 1969, que não estava previsto na resolução da Reitoria, à existência de um grupo de pesquisa em Física Nuclear com atividade muito intensa. De acordo com ele, ainda existe o grupo de pesquisa em petróleo que é um dos mais avançados no país, responsável pela formação de profissionais de destaque que atuam na UFBA e fora dela. Argolo também lembrou que em 1969, sete alunos ingressaram no mestrado e em 1970, entraram três para o doutorado.
De acordo com a ex-reitora Dora, a partir da década de 1970, surgiram outros novos cursos de pós-graduação nas áreas de Educação, Medicina, Física, botânica, patologia Humana e Saúde Comunitária.