Nos dois últimos números do periódico Science & Education, principal veículo de publicação de artigos científicos da área de história, filosofia e ensino de ciências (Qualis A1 na área de Ensino, indexado em ISI, SCOPUS, ERIC etc.), foram publicados dois artigos do Laboratório de Ensino, História e Filosofia da Biologia (LEHFBio), do Instituto de Biologia/UFBA, coordenado pelo Prof. Charbel El-Hani.
No vol. 21, n. 4, Vanessa Carvalho dos Santos (UEPB, mestre pelo PPG em Ensino, Filosofia e História das Ciências/UFBA-UEFS), Leyla Mariane Joaquim (doutoranda e mestre pelo PPG em Ensino, Filosofia e História das Ciências/UFBA-UEFS) e Charbel El-Hani publicaram "Hybrid Deterministic Views about Genes in Biology Textbooks: A Key Problem in Genetics Teaching (http://www.springerlink.com/content/r576787411861418/). Neste artigo, argumentam que a apresentação de conceitos de gene e modelos de função gênica de modo inconsistente e a-histórico em livros didáticos são uma fonte importante de dificuldades para a compreensão da genética pelos estudantes, não tendo recebido, contudo, muita atenção da literatura científica até o momento. Em particular, a superposição de idéias de diferentes modelos leva a visões híbridas sobre genes, sem correspondência com modelos cientificamente aceitas e que favorecem visões deterministas, que geram importantes problemas, por sua vez, nas relações entre o conhecimento em genética e a sociedade. Para fundamentar seus argumentos, apresentam uma análise extensa de dados sobre a abordagem de genes em 18 livros didáticos de biologia do ensino médio, publicados no Brasil.
No vol. 21, n. 5, Juan Manuel Sánchez Arteaga (pós-doc do Laboratório de Ensino, História e Filosofia da Biologia, IB-UFBA, e pesquisador do Instituto de História, Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, Espanha) e Charbel El-Hani publicaram "Othering processes and STS curricula: From nineteenth century scientific discourse on interracial competition and racial extinction to othering in biomedical technosciences" (http://www.springerlink.com/content/803142848704p00l/), no qual abordam debates sobre competição interracial e extinção racial no discurso sobre evolução humana do final do século XIX, com o intuito de discutir a função ideológica desses conceitos biológicos como ferramentas de naturalização e legitimação científica de hierarquias raciais. De um ponto de vista educacional, o argumento é que essas discussões científicas sobre raça, vistas de uma perspectiva histórica, podem resultar em plataformas críticas para que professores e estudantes examinem o papel da ciência em processos contemporâneos de alterização relacionados às tecnociências biomédicas, que foram e continuam a ser usadas para gerar e discriminar outras etnias, culturas etc. discute-se, assim, uma série de princípios de planejamentos de intervenções didáticas que possam colocar em foco as relações entre ciência, tecnologia e sociedade (CTS), de modo a criar condições para que estudantes e professores desenvolvam uma visão crítica equilibrada de tais relações, que nem demonizem, nem louvem acriticamente a empreitada científica.