O Prof. Dr. Carlos Roberto Franke e o doutorando Aroldo José Borges Carneiro, da Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFBA, bem como o pesquisador Andreas Stöcker, do Laboratório de Pesquisa em Infectologia do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos da UFBA (LAPI/Hupes), são coautores do artigo intitulado "Bats host major mammalian paramyxoviruses" (DOI: 10.1038/ncomms1796) publicado na revista Nature Communications (http://www.nature.com/ncomms/journal/v3/n4/full/ncomms1796.html). O primeiro autor, Dr. Jan Felix Drexler, já trabalhou como pesquisador junto à UFBA e, atualmente, é membro do Instituto de Virologia da Universidade de Bonn, Alemanha, o qual é dirigido pelo Prof. Dr. Christian Drosten, também coautor do artigo.
A importância do artigo, fruto de uma ampla parceria entre pesquisadores da Europa, América Latina e África, se deve à descoberta da participação dos morcegos como reservatórios de paramixovírus, grupo de vírus que inclui importantes agentes causadores de doenças em humanos e animais, a exemplo do sarampo, caxumba e cinomose canina. Foram analisadas cerca de 9.200 amostras biológicas de morcegos e de roedores, provenientes de diversas partes do mundo, nas quais foram detectados 66 novos paramixovírus. Embora não se possa afirmar se todos esses novos vírus sejam patogênicos para seres humanos, alguns deles são semelhantes a vírus
conhecidamente patogênico, tais como o vírus relacionado ao Morbilllivirus, agente etiológico do sarampo, detectado em dois morcegos hematófagos capturados no estado da Bahia. Chamou atenção também a presença de Henipavirus, vírus emergente e causador de encefalite letal em humanos, nos morcegos frutívoros da África, os quais são caçados e servem de alimento para pessoas, potencializando o risco de transmissão viral. Os resultados indicam ainda próxima relação entre os morcegos e os vírus da caxumba, da cinomose canina e sincicial respiratório.
Esses resultados inéditos revelam que os morcegos são importantes reservatórios do grupo de vírus pertencente à família Paramixoviridae. Conhecer o potencial que os morcegos apresentam para atuarem como reservatório de agente infeccioso é fundamental para a elaboração de medidas preventivas que diminuam os impactos causados por viroses emergentes. Os morcegos desempenham importante papel ecológico no que diz respeito à polinização, dispersão de sementes, controle de insetos entre outros, sendo necessários à preservação e equilíbrio ambiental. A redução dos ambientes naturais em consequência das atividades humanas é considerada um dos principais fatores de risco, uma vez que aumenta a chance de contato dos morcegos com as pessoas e seus animais domésticos.